domingo, 2 de agosto de 2009

As lendas de Ossanyin


Algumas lendas cercam o universo deste orixá. Uma delas é esta: Ossain era o único orixá que sabia reconhecer e despertar os poderes mágicos das plantas e usá-los para curar as enfermidades, ou nos rituais litúrgicos. Ele sabia, como ninguém, fazer misturas mágicas com os vegetais, raízes e folhas. Os outros orixás também tinham o desejo de possuir suas próprias folhas, bem como o conhecimento necessário para receber o axé proveniente delas, mas Ossain não revelava seus segredos e não deixava ninguém apanhar folhas em suas florestas. Oyá (Iansã) não aceitava essa situação, pois sua aldeia estava sendo assolada por doenças, e nada podia ser feito. Foi, então, que ela pediu a Ossain que lhe desse algumas folhas e seus respectivos encantamentos, mas este negou-se a fazê-lo. Oyá ficou muito contrariada, não se conformando com uma atitude tão insensível. Sua fúria incontrolável fez levantar o vento. E o vento foi tão forte, que as folhas se desprenderam das árvores, voando para todos os cantos da floresta. Ossain gritava: “Minhas folhas, minhas folhas”. A cabaça com os segredos ficou exposta por algum tempo, possibilitando aos orixás a oportunidade de absorver uma pequena parte desse conhecimento. Assim, os orixás cataram suas folhas, que seriam utilizadas em seus rituais sagrados; porém, não podiam dispensar a ajuda de Ossain, pois ele sempre será o grande sábio da floresta.

Outra lenda nos conta que Ossain trabalhava na roça de Orunmilá, que é um orixá fun-fun (da cor branca) e detentor do conhecimento do oráculo divinatório. Ossain tinha a tarefa de cultivar os campos, mas recusava-se a limpar o terreno para fazer a semeadura. Ele não conseguia podar as plantas, pois achava utilidade em todas elas. Essas folhas podiam curar todo tipo de doença existente.Orunmilá, vendo que o serviço não saía, foi ver o que estava acontecendo. Ossain explicou seus motivos, fazendo com que o grande orixá fun-fun percebesse estar diante de um ser encantado e de grande conhecimento. Ao invés de castigá-lo, deu-lhe uma posição de destaque dentro do oráculo de Ifá. Dessa forma, Orunmilá teria, perto de si, alguém para lhe revelar os segredos das folhas.


Esse é outro modo de contar a priomeira lenda descrita neste blog, mas que é a mais aceita: Òsanyin, filho de Nanã e irmão de Osumare, Ewá e Obaluayê, era o senhor das folhas, da ciência e das ervas, o Orisá que conhece o segredo da cura e o mistério da vida. Todos os Orisás recorriam a Òsanyin para curar qualquer moléstia, qualquer mal do corpo. Todos dependiam de Òsanyin na luta contra a doença. Todos iam à casa de Òsanyin oferecer seus sacrifícios. Em troca Òsanyin lhes dava preparados mágicos: banhos, chás, infusões, pomadas, abô, beberagens. Curava as dores, as feridas, os sangramentos; as disenterias, os inchaços e fraturas; curava as pestes, febres, órgãos corrompidos; limpava a pele purulenta e o sangue pisado; livrava o corpo de todos os males. Um dia Sango, que era o deus da justiça, julgou que todos os Orisás deveriam compartilhar o poder de Òsanyin, conhecendo o segredo das ervas e o dom da cura. Sango sentenciou que Òsanyin dividisse suas folhas com os outros Orisás. Mas Òsanyin negou-se a dividir suas folhas com os outros Orisás. Sango então ordenou que Iansã soltasse o vento e trouxesse ao seu palácio todas as folhas das matas de Òsanyin para que fossem distribuídas aos Orisás. Iansã fez o que Sango determinara. Gerou um furacão que derrubou as folhas das plantas e as arrastou pelo ar em direção ao palácio de Sango. Òsanyin percebeu o que estava acontecendo e gritou: - "Euê Uassá!". "As folhas funcionam!" Òsanyin ordenou às folhas que voltassem às suas matas e as folhas obedeceram às ordens de Òsanyin. Quase todas as folhas retornaram para Òsanyin. As que já estavam em poder de Sango perderam o Axé, perderam o poder da cura. O Orisá Rei, que era um Orisá justo, admitiu a vitória de Òsanyin. Entendeu que o poder das folhas devia ser exclusivo de Òsanyin e que assim devia permanecer através dos séculos. Òsanyin, contudo, deu uma folha para cada Orisá, deu uma euê para cada um deles. Cada folha com seus axés e seus efós, que são as cantigas de encantamento, sem as quais as folhas não funcionam. Òsanyin distribuiu as folhas aos Orisás para que eles não mais o invejassem. Eles também podiam realizar proezas com as ervas, mas os segredos mais profundos ele guardou para si. Òsanyin não conta seus segredos para ninguém, Òsanyin nem mesmo fala. Fala por ele seu criado Aroni. Os Orisás ficaram gratos a Òsanyin e sempre o reverenciam quando usam as folhas.
Òrìsà das Folhas e das Matas !!! Òrúnmílá dá a Òsanyìn o nome das plantas. Veja essa lenda, como expressa essa rivalidade e posterior "acordo' entre eles, e revela como Ossanyin é mais antigo até do que os seus ditos "pais": Ifá foi consultado por Òrúnmílá que estava partindo da terra para o céu e que estava indo apanhar todas as folhas. Quando Òrúnmílá chegou ao céu Olódùmaré disse, eis todas as folhas que queria pegar o que fará com elas ? Òrùnmílá respondeu que iria usá-las, disse que, iria usá-las para beneficio dos seres humanos da Terra. Todas as folhas que Òrunmílá estava pegando, Òrúnmílá carregaria para a Terra. Quando chegou à pedra Àgbàsaláààrin ayé lòrun (pedra que se encontra no meio do caminho entre o céu e a terra) Aí Òrúnmílá encontrou Òsanyìn no caminho. Perguntou: Òsanyìn onde vai? Òsanyìn disse; "Vou ao céu, disse ele, vou buscar folhas e remédios". Òrúnmílá disse, muito bem, disse, que já havia ido buscar folhas no céu, disse, para benefício dos seres humanos da terra. Disse, olhe todas essas folhas, Òsanyìn pode apenas arrebatar todas as folhas. Ele poderia fazer remédios (feitiços) com elas porém não conhecia seus nomes. Foi Òrúnmílá quem deu nome a todas as folhas. Assim Òrúnmílá nomeou todas as folhas naquele dia. Ele disse, você Òsanyìn carrega todas as folhas para a terra, disse, volte, iremos para terra juntos. Foi assim que Òrúnmílá entregou todas as folhas para Òsanyìn naquele dia. Foi ele quem ensinou a Òsanyìn o nome das folhas apanhadas.
Mais uma que revela o caráter próspero, porém racional deste orixá: Desde pequeno Òsanyìn andava metido mata adentro. Conhecia todas as folhas, sabendo empregá-las na cura de doenças e outros males. Um dia Òsanyìn resolveu partir pelo mundo. Por onde andava era aclamado como o grande curandeiro. Certa vez salvou a vida de um rei, que em recompensa deu-lhe muitas riquezas. Òsanyìn não aceitou nada daquilo; disse que aceitaria somente os honorários que seriam pagos a qualquer médico. Tempos depois, a mãe de Òsanyìn adoeceu. Sendo procurado por seus irmãos e para espanto destes, Òsanyìn exigiu o pagamento de sete cauris por seus serviços, pois não poderia trabalhar para quem quer que fosse no mundo, sem receber algo. Mesmo contrariados os irmãos pagaram-lhe os sete cauris e sua mãe foi salva. Òsanyìn curou a mãe e seguiu caminho, pois ele é a folha e tinha que estar livre para o mundo.

Òsanyìn havia recebido de Olodumaré o segredo das ervas. Estas eram de sua propriedade e ele não as dava a ninguém, até o dia em que Sangô se queixou à sua mulher, Yansan-Oyá, senhora dos ventos, de que somente Òsanyìn conhecia o segredo de cada uma dessas folhas e que os outros deuses estavam no mundo sem possuir poder sobre nenhuma planta. Oyá levantou as saias e agitou-as, impetuosamente. Um vento violento começou a soprar. Òsanyìn guardava o segredo das ervas numa cabaça pendurada num galho de iroco. Quando viu que o vento havia soltado a cabaça e que esta tinha se quebrado ao bater no chão, ele gritou "Ewê O!! Ewê O!" (Oh! as folhas!! Oh! as folhas!!) As folhas voaram pelo mundo e os Orisás se apoderaram de algumas delas, mas Òsanyìn continuou dono do segredo das suas virtudes e dos cantos e palavras que devem se dizer para que sua força, Axé, apareça.

Uma outra lenda também revela que Ossanyin e Orunmilá eram adversários. Ossanyin vivia pregando peças em Orunmilá e fazendo-lhe feitiços. Mas Orunmilá não sabbia quem era esse inimigo. Pediu ajuda à Xangô e este disse que se quisesse saber deveria fazer oferenda ao Deus do Fogo, incendiando mudas de algodão. Assim orunmilá o fez. Na mesma hora em que Orunmilá foi fazer a oferenda na mata, Ossanyin estava lá a colher folhas para seus feitiços contra orunmilá. E neste momento, O deus do fogo ouviu Orunmilá e aceitou sua oeferenda, fazendo cair um forte raio na mata que atingiu Ossanyin, deixando-o sem uma perna, um braço e cego de um oplho. Orunmilá, ao correr para acudir a vítima do raio, avistou Ossanyin e descobriu quem era seu inimigo.


Quem mais souber alguma lenda que revele mais sobre este orixá, pode informar e indicar aqui mesmo no blog.

Um pouco mais sobre Ossaniyn


Alguns estudiosos e iniciados no candomblé relatam que esta divindade era originária de Iraô, atualmente na Nigéria, muito próxima com a fronteira com o antigo Daomé. Não faz parte, como muitos pensam, do panteão Jeje assimilado pelos Nagô (os 16 companheiros de Odùdùwa quando na chegada de Ifá), como Nanã, Omolú, Oxumaré e Ewá. Ossaim é um deus originário da etnia Iorubá. Contudo, é evidente que entre os Jeje havia um deus responsável pelas folhas, e Ágüe é o seu nome, por isso Ossaim dança bravun e sató, a exemplo dos deuses do antigo Daomé. Está extremamente ligado a Orunmilá, Senhor das Adivinhações. De acordo com a história desse orixá, há uma rivalidade entre Ossaim e Orunmilá, que reflete, na verdade, a antiga disputa entre os Oníìsegùn – mestres em medicina natural que dominavam o poder das folhas – e os Babalawó – sacerdotes versados nos profundos mistérios do cosmo e do destino dos seres, os pais do segredo. Estas relações, hoje cordiais e de franca colaboração, atravessaram no passado período de rivalidade. Algumas lendas refletem as lutas pela primazia e pelo prestígio. Uma delas fala como Osanyin virou escravo de Orunmilá (Ifá). Dizem que este último precisava de um escravo e mandou que o comprassem no mercado. Osanyin estava lá e foi comprado. Na hora de começar o trabalho, Osanyin percebeu que ía cortar a erva que curava a febre, a erva que curava as dores de cabeça e outra que supria as cólicas. "Na verdade, disse ele, não posso arrancar ervas tão necessárias". Orunmilá tomando conhecimento do fato, quis ver quais eram as ervas de tão grande valor. Convencido do valor de Osanyin decidiu que ele ficaria sempre ao seu lado durante as consultas. Daí se conhece um pouco da liberdade e autonomia conquistada por Ossanyin.


Sabe-se então, que esta energia foi viver na mata, em companhia de Aroni, uma espécie de "ser encantado da floresta" que tem uma única perna, cabelos vermelhos e fuma um cachimbo feito de concha de caramujo. Aroni e Ossanyin são então, os guardiões da mata e enfeitiçam, brincam e espantam da mata os homens, quando percebem que estes destruirão as matas. Hoje, o sincretismo e o folclore o colocam como sendo o popular Curupira e o Saci Pererê. Mas, sabemos que este orixá é mais do que isso. É um ser antigo no planeta, que tem uma utilidade primordial ainda não aproveitada o máximo. Mas, se o homem continuar se afastando de suas raízes e buscando cada vez mais destruir o planeta com poluição, desmatamento e ganância, talvez perdamos a essência de tudo o que poderá gerar vida e renovação um dia.


Aroni, no culto é considerado um mensageiro e companheiro de Ossanyin. para muitos este é dado como o "exú" dos caminhos deste orixá. O saci, o brincalhão. Pode também, ser chamado de "Calunga", ou "Calunguinha" da mata; o que esconde e torna a desvendar coisas, o que brinca com os desprevinidos na mata. Enfim, são muitos os mistérioos de Ossanyin!
Um pouco sobre o "sexo" de Ossanyin: Uma confusão latente refere-se ao sexo deste orixá; é preciso esclarecer que se trata de um orixá do sexo masculino. Entretanto, como feiticeiro e estudioso das plantas, não teve tempo de relacionamentos amorosos. Sabe-se que foi parceiro de Iansã, mas o controvertido relacionamento com Oxóssi, que ninguém pode afirmar se foi ou não amoroso, é o mais comentado. Na verdade, Ossaim e Oxóssi possuem inúmeras afinidades: ambos são orixás do mesmo espaço, da floresta, do mato, das folhas, grandes feiticeiros e conhecedores dos segredos da mata, da Terra.

O arquétipo dos filhos deste orixá: são pessoas equilibradas, que controlam bem os sentimentos e emoções, que buscam religiosidade e espritualidade. São justos nos seus julgamentos, pois não deixam simpatias e antipatias interferirem neles. Por isso são frios e racionais em suas decisões. São pessoas extremamente reservadas, não se metem em questões que não lhe dizem respeito e são discretos. Preferem o isolamento, a reuniões sociais e não gostam de falar de suas vidas. Preferem deixar essa parte sob mistério. Nada que seja tão grave, mas preferem deixar suas vidas consigo mesmos. Também não buscam saber da vida alheia. Detestam intrigas, fofocas e confusões. São dedicados no cumprimento de suas tarefas e caprichosas em seu trabalho. Não gostam de fazer nada sob pressão, ou apressadamente. Por esta razão, não são ligados a horários e preferem ter liberdade de ação, em seu trabalho. Não suportam um "chefe" ou subalternos. Adoram atividades artesanais que desempenhem paciência.
As qualidades de Ossanyin: ainda como iniciante no culto, não detenho as qualidades deste orixá, meu protetor. O pouco que ainda me foi passado é que existem poucas qualidades deste orixá. Sabe-se de duas, ou quatro qualidades (irradiações), mas estas ainda não foram passadas a mim. O que sei é que uma tem maior afinidade com omulu e obaluaiê, outra com afinidade maior com Oxoguiãn e outra com afinidade maior com Xangô. Mas, todas elas desfrutam da mesma força e divindade.

As características dos filhos de Ossain: os filhos deste orixá são pessoas discretas, que gostam de ter suas vidas sob mistério e sob discrição, apreciam as atividades artesanais e que detenham paciência, são caprichosos e perfeccionistas nas suas atividades, sejam elas quais forem. Não apreciam fofocas, ou intrigas e são bons amigos. Guardam segredos, são honestas e ligadas a religiosidade e espiritualidade. Geralmente, os filhos deste orixá possuem uma versatilidade muito grande, quando se fala em espiritualidade. Podem transitar por várias crenças, como estudiosos, filósofos, ou adeptos, pois detêm, junto de seu orixá, "lembranças" reencarnatórias de suas passagens e conhecimento. São idealistas e ligados também, às atividades ecológicas e médicas. São bons médicos, curadores, curandeiros e rezadores. São pessoas reservadas e não são dados a encontros sociais. Preferem o isolamento. Não suportam fazer nada apressadamente, por isso, não apreciam "chefes" pressionadores e subalternos. Gostam de liberdade para trabalhar. Não são ligados em horários e preferem atividades que não cobre tanto isso. mas, são bons seguidores dos deveres, o que lhes confere uma boa índole. Se, por acaso, seu trabalho exija um certo horário, buscam fazê-lo da melhor forma possível.