sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Mitos e lendas sobre as plantas

Ao longo do tempo o mundo vegetal tem testemunhado todo tipo de lendas e especulações. Desde suas origens mitológicas, até suas orientações mágicas, as plantas são utilizadas pelo homem com finalidadedes variadas: curar a tristeza, exorcisar os possúidos, encontrar a pessoa amada, proteger de raios e tempestades, trazer sorte, etc.
As virtudes das plantas tornavam as pessoas que as manipulavam no seu meio social, com extraordinário poder, e com isso o conhecimento botânico ficou circusncrito, tradicionalmente, a determinados grupos. As culturas arcaicas as depositaram nos Xamãs. Os gregos antigos cultivavam a figura de Rhizotomo, especialista em herboristesia medicinal e do Pharmacopola conhecedor e comercienate dos medicamentos vegetais. Os medievais começaram a distinguir entre os conhecedores cultos sobre os vegetais, que ficava nas mãos de médicos, botânicos e boticários, e entre o conhecimento popular representado pelas feiticeiras e bruxas, mulheres sábias que auxiliavam nas enfermidades e nos males de amor o grande coletivo campestre que não podia pagar os excessivos emolumentos dos médicos e boticários, oficialmente aprovados para exercer seus ofícios.
Com isso, estabeleceram-se duas mentalidades, os dos estudiosos e eruditos, que desprezavam a mentalidade popular, supersticiosa e crente totalmente no poder mágico das plantas, e a das pessoas simples, que recorriam a ditos feiticeiros, e magos para curarem seus males. 

As plantas e sua vinculação a deidades espirituais e lendárias

Não poderíamos deixar de falar sobre a vinculação das plantas com as deidades espirituais e lendárias do planeta, tais como as gregas, orientais e africanas. É maravilhoso ver que estas culturas, apesar de aparentemente distantes se assemelham no que diz respeito a sincretismo. Por exemplo, Gaia, Géia, Gea ou Gê era a titânide (ou titanesa) da Terra, a Mãe Terra, como elemento primordial e latente de uma potencialidade geradora quase absurda. Segundo Hesíodo, no princípio surge o Caos, e do Caos nascem Gaia, Tártaro, Eros (o amor), Érebo e Nix (a noite). Gaia gera sozinha Urano, Ponto e as Óreas (as montanhas). Ela gerou Urano, seu igual, com o desejo de ter alguém que a cobrisse completamente, e para que houvesse um lar eterno para os deuses "bem-aventurados".
Com Urano, Gaia gerou os 12 Titãs: Oceano, Céos, Crio, Hiperião, Jápeto, Téia, Reia, Têmis, Mnemosine, a coroada de ouro Febe e a amada Tétis; por fim nasceu Cronos, o mais novo e mais terrível dos seus filhos, que odiava a luxúria do seu pai.
Após, Urano e Gaia geraram os Ciclopes e os Hecatônquiros (Gigantes de Cem Mãos). Sendo Urano capaz de prever o futuro, temeu o poder de filhos tão grandes e poderosos e os encerrou novamente no útero de Gaia. Ela, por raiva trama várias empreitadas para ter condições de parir seus filhos queridos, mas sempre era impedida, seja por seu marido, seja por seus filhos que temiam o poder destes que poderiam nascer de seu seio. 
Em uma outra oportunidade, Gaia produziu uma planta que ao ser comida poderia dar imortalidade aos Gigantes; todavia a planta necessitava de luz para crescer. Mas ao saber disto Zeus ordenou que Hélios, Selene, Eos e as Estrelas não subissem ao céu, e escondido nos véus de Nix, ele encontrou a planta e a destruiu. Mesmo assim Gaia incitou os Gigantes a colocarem as montanhas umas sobre as outras na intenção de subir o céu e invadir o Olimpo. Mas Zeus e os outros deuses venceram novamente.
Como última alternativa, enviou seu filho mais novo e o mais horrendo, Tifão para dar cabo dos deuses e seus aliados, mas os deuses se uniram contra a terrivel criatura e depois de uma terrivel e sangrenta batalha, eles conseguem vencer o último filho de Gaia.
Enfim, Gaia cedeu e acordou com Zeus que jamais voltaria a tramar contra seu governo. Dessa forma, ela foi recebida como uma deusa Olímpica.
 Isto demonstra a relação entre os deuses e vegetais, e remet e o motivo pelo qual alguns vegetais são atribuídos a algumas deidades sagradas. 
Na cultura africana, sabemos que o candomblé também adota esta característica em sua liturgia, dando a cada orixá uma folha característica e encantada que reúne a força daquele orixá, ou a fonte de bioplasma de onde tal orixá retira energia vital para atuar sobre a vida dos seus filhos e sobre a natureza. José Flávio pessoa de Barros, em sua obra Ewê Òrìsà - uso litúrgico e terapêutico dos vegetais  nas casas de candomblé Jêje-nagô fala dessa relação dos orixás com os vegetais. Por exemplo, sabe-se de uma lenda relacionada à òsànyín, que este detentor das forças e encantos das folhas, guardava estes poderes em segredo, até que Xangô, intrigado e precavido quanto ao poder dado a este orixá, decidiu que cada um deveria deter este conhecimento e não ficar tão dependente de òsànyín. Convocou Iansã, deusa dos ventos para a tal empreitada. Iansã, fiel a xangô, ordenou uma ventania até òsànyín, que derrubou sua cabaça com as folhas sagradas e as embalou ao vento, espalhando-as. Osànyín, muito surpreso, correu atrás de seu tesouro e gritava Ewê, òsà! (Oh, folhas!) e as atraía novamente para sua cabaça. Com a ventania, cada orixá correu atrás das folhas que pudessem pegar e cada um, pegou uma folha, que hoje é direcionada a eles. Mas nunca conseguem encantá-las sem que òsànyín as encante e permita que elas sejam utilizadas. Xangô, percebendo que tal poder dado a òsànyín não póderia ser dividido, reconheceu neste orixá uma utilidade verdadeira e aceitou sua função no planeta. Por isso, hoje, nenhum terreiro pode viver sem esta deidade.
Baseado nos estudos de José Flávio Pessoa de Barros posso aqui relatar a utilidade de algumas como exemplo, pois reservarei um tópico especial para isso:

Akòko - de nome popular acocô é uma planta diretamente ligada à Òsànyín e a Ogum de elemento Terra e masculino. É originária da África e aclimatada no Brasil, mais precisamente na Bahia. Na África é atribuída à prosperidade, pois é colocada nas portas dos mercados sua estaca, e quando os feirantes vão embora, os galhos enterrados brotam, dando origem a novas árvores. Na cidade de Iré, na África, local de culto a Ogum, são depositados os assentamentos deste orixá. No Brasil as folhas deste vegetal são utilizadas nos rituais de iniciação, no àgbo e em banhos para todos os iniciados, independente de qual seja seu orixá. São colocadas em oferendas e podem em substituição a são gonçalinho, ser espallhadas no terreiro em dias de festas. Cultuada como árvore sagrada é utilizado tanto no culto aos orixás quanto nos terreiros egúngún, onde se cultuam os ancestrais ilustres, na Bahia.
Apáòká - a popular jaqueira é ligada diretamente aos orixás Apáòká (qualidade mais antiga de Yamim Osoronga - a mãe de Oxossi), Xangô e Exu, de elemento fogo e masculino. é originária da ìndia, mas encontra-se disseminada por diversas regiões tropicais e subtropicais do mundo, inclusive África e Brasil. Apáòká é o nome de uma entidade fitomórfica cultuada em uma jaqueira. Nas casas mais antigas dos candomblés de origem Jêje-nagô, esta árvore é ornada com grandes laços de tecido que a distinguem como sagrada. Em suas raízes, potes de barro contendo água também sinalizam o sagrado. As folhas da jaqueira são utilizadas para assentar Exu e em banhos para os filhos de Xangô; porém seu fruto não deve ser comido por seus iniciados. Na África, a jaqueira também é conhecida pelo nome iorubá tapónurin, de acordo com os estudos de Pierre Verger. Os caroços da jaca, assados ou cozidos, lembram castanha portuguesa e são tidos como afrodisíacos. Na medicina popular este vegetal é usado como estimulante, antidiarréico, antiasmático, antitussígeno e expectorante.


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